terça-feira, 18 de maio de 2010

Em um outro tempo, muito distante, muitos anos na frente...

O sol se punha lentamente na cidade de Ahm. Enquanto o paladino se entretinha nas tarefas de sua igreja, agora já

quase reconstruída, a ladra ajudava no que podia e ficava a admirá-lo enquanto o fazia. O cavaleiro da morte

observava de longe seus amigos, zelando por aquele ultimo momento de paz. A calma antes da tormenta. Ele observa a

todos, com mais ou menos interesse, questionando seu papel e o deles nessa bola de neve que eles iniciaram. Por que

ele sabe, com todas as certezas, que foram eles que iniciaram tudo isso.
O ultimo raio de sol brilha, com certeza em direção a Tehyr ele pensa. Seus olhos param sobre a menina elfa.

Encantadora, sem dúvida. Filha da Muda, aquela que lhe salvou a vida e lhe ajudou, como que por nenhum motivo.

Alguém a quem ele seria eternamente grato. A filha dela era uma das moças mais lindas que ele já conhecera. Era mais

que beleza, no fundo era algo especial... Algo que fazia com que todo homem que se aproximasse dela se encantasse

logo no primeiro olhar.
O cabelo loiro, comprido, solto como poucas vezes ela deixava, tremulava ao vento que soprava do norte. A

pele clara, vermelha por causa do trabalho pesado que fazia. O corpo frágil, que mal aparenta a força sobre-humana

que ela possui, parece se atirar sobre o paladino. Os olhos, cor de rosa, atestando sua meia natureza élfica junto

das orelhas pontiagudas, brilham e não olham para nenhuma outra direção. Mesmo quando ela parece só com seus

pensamentos, é na imagem do paladino que eles pousam.
Parece que só ele não vê o corpo magnífico que aquela menina tem. As pernas, os braços, loucos para enlaça-

lo; os seios, ardendo como o coração que carregam, por um toque, mesmo que ingênuo, dele. A cintura, que grita por

um abraço...
O cavaleiro enrubesce. Naquele momento ele a desejou, e quis que fosse por ele que ela clamasse com tanta

paixão. Ele sentiu o coração bater com a saudade daquelas que já se foram: Muda, Valéria... Ficou com raiva do

paladino, por ser tão cego, ou burro... E lembrou, ao olhar novamente para a menina, da natureza mágica que nela

havia. E lembrou da reação dela quando foi dito o que aconteceria com aqueles feitos de magia... E tremeu. Encarou o

pássaro, procurando uma resposta que ele não encontrou, mas já conhecia.
Lembrou do dia anterior. Da confusão por causa do livro de Chauntea. Da morte do irmão, das lágrimas. Do rei

irmão que tentou manter a calma em momento tão desagradável. Do rei menino, que deixara para trás, no inferno,

graças a ele e seu comparsa, toda sua meninice. Da clériga... A clériga que, provavelmente, seria a resposta para os

anseios daquela menina. Ou não... Lembrou do ladrão. Não Ramon, o outro... O líder da guilda, o mensageiro de Mask.

Mask, que está dos dois lados da batalha, ou como ele mesmo diria, não esta de nenhum a não ser o dele mesmo. Ele

disse que a menina havia sido escolhida sim... Mas isso só iria se mostrar mais pra frente... Suas mãos tremem e ele

sente impulso de procurar sua arma. Ele fecha os olhos, com medo de quem ele se tornou...
“Meu coração não está morto, apenas meu corpo está...” Ele pensa com certo pesar. “Foi a minha escolha...”

Ele mesmo se lembra. “Mask... Eu sei que, até mesmo para seus seguidores isso pode soar estranho, mas... Eu senti

sua falta amigo! Agora eu entendo... melhor... o que você me disse alguns anos atrás. Mas eu acho que, mesmo naquela

época, você já sabia que decisão eu iria tomar...”.
Ele desce do topo do prédio onde estava quando a luz se esvai. Logo irão chamá-los para a festa que ele

mesmo requisitou. Esta noite eles terão a festa que irá acalmar o fogo em seus corpos. Ele suprira a saudade que dói

o peito afogando-o em vinho e hidromel. Mas antes... Ele desce as escadas, e encostada na parede do lado de fora do

templo de Tempus esta a menina. Ela descansa mais alguns minutos antes de ser chamada para se trocar para a festa. O

pássaro pouso bem em frente a ela e a encara. Ela recua, assustada. Ele não sabe bem se do animal ou dele. Ela tem

medo...
- Calma menina. EU não vim buscar você hoje... Eu vim como o homem, não como o cavaleiro.
- Desculpa Chronos. É que, depois do meu irmão eu...
- Eu entendo... Queria que você pudesse entender que era necessário...
- Eu entendo. Mas, ainda assim, ele é meu irmão mais novo... – Ela tenta sorrir, um sorriso meio tímido meio

sarcástico.
- Posso sentar com você um instante?
- Ah...Pode... – Ela se esgueira para o lado um pouco. Faz menção de levantar quando ouve barulho dentro do

templo. Como ele não sai, ela se acalma.
- Han... Você não consegue nem evitar não é mesmo?
- Não consigo evitar o que?
- Se eriçar quando ele chega perto.
- Ele?
- Pandur...
- Não é isso, eu...
- Kalli...Eu posso não ser um dos mais atentos por aqui, mas eu ainda não estou cego. E, é bastante óbvio o

jeito que você olha pra ele.
- Bom, é que... – Ela enrubesce, e parece ficar ainda mais bonita.
- Ele sabe?
- Sabe... Eu falei com ele alguns dias atrás... Mas... Não sei, acho que ele não sente o mesmo por mim...
- Eu não vou dizer o contrário. Eu não sei. Mas eu vou dizer o que eu sei... Sei que o que você sente é algo

muito especial, e eu a invejo por isso. Sei que passei o dia observando você, e eu o invejo por ter a oportunidade

de ter alguém tão absolutamente bela ao lado dele. E sei, e preste atenção nisso, que vocês não tem muito tempo se

quiserem ficar juntos.
- Chronos... Quem é você que eu mal reconheço?
- Essa, menina, é a parte de mim que tem muito mais tempo de conhecimento que meu próprio corpo pode agüentar

hoje. – Ao dizer isso é como se os olhos dele brilhassem. Brilhavam como cristal...
- Você mudou... Mas parece triste...
- Ouça o que eu digo, Kalli. Vocês não tem mais que essa semana para ficarem juntos... EU sei... – ele vê o

medo nos olhos dela quando ele enfatiza o eu em sua frase e a tatuagem em seu rosto parece mais nítida. – Vá agora

menina. Fale com a clériga e com o líder da guilda. Peça que eles a deixem o mais bela que você pode ser... Fique

linda pra ele... Pode ser sua ultima chance...
Com essas palavras ele a deixa ir. Enquanto ele permanece próximo a porta do templo, aguardando que o paladino saia,

ela vai de encontro a clériga, no barco.
Antes de procurar qualquer pessoa, ela vai até seus aposentos. Pega as duas ultimas adagas que sobraram do presente

que recebeu de Tempus e as coloca sobre um baú onde ela improvisa um pequeno altar. Acende duas velas, uma ela

dedica ao deus das batalhas, outra a sua mãe. Desnuda de qualquer roupa ou utensílio, ela ajoelha aos chãos e reza:
- Ò Grande Tempus, senhor das batalhas e de todas as guerras, ouça minha prece... Tens me abençoado há muito

tempo e por isso eu te agradeço. Venho procurando auxiliar seu escolhido e não vejo pesar por essa escolha. No

entanto, admito que o tenho feito, há já algum tempo, por interesses pessoais. E é sim, o senhor, que eu lhe dedico

essa prece. Não apenas para agradecer suas graças, mas para lhe fazer uma súplica.
O senhor tem o mais valoroso dos cavaleiros, e ele procura seguir teus ensinamentos a todos os momentos. Pandur é,

sem dúvida, o Lorde do caos, e da guerra, como tem sido chamado. Pois bem, grande Tempus, tu tens o guerreiro. Ele é

teu e sempre será. Então, por que não deixa o homem para mim? Eu sigo teu cavaleiro, ó senhor, e ao faze-lo sigo a

ti. Então, não mereço a atenção do homem que escolheste, por tanta devoção?
Tens o guerreiro. Deixa o homem para mim. Ele é o homem que eu amo, deixa que este seja um assunto apenas entre nós

dois. Não se intrometa em assunto que não é batalha. O amor, ò lorde Tempus, é assunto que não diz respeito ao teu

panteão... O amor, senhor, é assunto meu...

Cons essas palavras ela apaga a vela destinada ao deus das guerras. Uma oração silenciosa, um pedido de benção e um

sentimento de saudade são o que ela destina a sua mãe antes de apagar a outra vela. Ao vestir-se com roupas simples,

ela segue atrás da clériga e do líder da guilda. Agora, prepara-la, esta nas mãos deles.