sexta-feira, 24 de junho de 2016

Memórias de Andorras

Eles haviam chegado a cidade naquela manhã. Andorras, Chronos e Pandur, se destacavam cada um a sua maneira.

Pandur, sempre imponente, o cabelo loiro, comprido j
á na altura dos ombros, balançava com a brisa fresca do mar. A barba por fazer de alguns dias de viagem entre a torre e Waterdeep parecia emoldurar seu belo rosto. Os olhos azuis competiam com a cor do céu naquela manhã de sol. O corpo forte totalmente coberto pela armadura. Desfilava pelas ruas em cima do cavalo branco, como se nada pudesse atingi-lo.

Andorras, com seu corpo mais esguio, dispensava a armadura e andava com o peito torneado
à mostra. A calça de viagem presa com um cinto que carregava apenas uma bainha e sua espada. Na ponta da espada, a pedra com o símbolo do Gorgon...
O cabelo comprido emoldurava seu belo rosto de linhas finas, marcado pela cicatriz que eclipsava o seu sorriso largo e cativante. Caminhava brincando com as garotas na rua, assobiava mesmo sem receber tantos suspiros de volta. Estava com uma alegria contagiante, para variar,era s
ó não tentar mexer em suas coisas...
Alguns passos atrás dos dois, cavalgando um enorme corcel negro, vinha ele, uma figura encapuzada e com uma máscara. O movimento do cavalo por vezes denunciava a armadura reluzente de cristal por baixo do pano, mas a máscara mantinha o mistério daquele ser tão destoante de seus companheiros. No pequeno broquel em seu braço o símbolo do deus da morte denunciava possíveis intenções.
Separaram-se durante todo o dia, cada um se ocupando com sua própria agenda, combinada desde o inicio da viagem. Mantimentos para eles e para os animais, material para construção que não podiam encontrar por eles mesmos nos arredores da torre, alguns animais de criação que poderiam aguentar até o inverno...

O paladino iria até seu templo, efetuar suas orações, prestar suas homenagens, oferecer algum serviço e algum tipo de retribuição.

Andorras estava mais preocupado em passar seu tempo com garotas. Sempre voltava com alguma informa
ção nova sobre a cidade, mas não era exatamente esse seu objetivo e todos sabiam.
Chronos evitava contato com os outros enquanto fosse possível. Ou melhor, as pessoas evitavam contato com ele. Mesmo com a máscara, sua presença parecia causar uma irritação geral em todos da cidade.
No final do dia se encontravam na taverna do Cão Caolho, como sempre. Avaliavam se já haviam conseguido tudo que tinham ido buscar e se preparavam para voltar a torre no dia seguinte.
Na taverna um bardo tocava seu violão e cantava uma canção sobre amores vividos.
Um rapaz esbarra sem querer em Andorras, que se levanta pronto para lutar, espada já em punho. Pandur se levanta, colocando a mão sobre a do amigo, pedindo desculpas ao transeunte e tentando acalmar o guerreiro dizendo que ninguém estava tentando levar sua espada.
Sentam-se novamente.

- Voc
ês não entendem, eu sei que as pessoas olham pra essa espada e querem leva-la. São tão atraídos por ela quanto eu sou.
- Até você pegar essa espada, Andorras, você jurava que as pessoas olhavam era pra você por causa da sua carinha de anjo! brinca Chronos num raro momento de descontração, provocando fazendo-o lembrar da cicatriz que tanto lhe custara. O Cão Caolho é o único lugar onde ele se permite tirar a máscara e ser um pouco mais ele mesmo.
No rosto jovem pode-se ver a marca do sol negro e da caveira. E a verdade
é que a impressão que dá se olhar por tempo suficiente é que o negro do sol é apenas o abismo, e a caveira, mais que uma pintura, os próprios ossos de seu portador. Quando ele foca os olhos parece que ele pode ver sua alma... Ou é assim que um dia Zé descreveu pra ele, com sua calma tão única, ao recomendar que ele usasse a máscara ao ir à cidade.
- Eles ainda olham pra mim, amigo, tenha certeza! Só preciso ter o cuidado de que, numa distração, aqueles que preferem olhar para baixo não se animem achando que alguém com minha aparência não seria capaz de cuidar da própria espada!

S
ão interrompidos por um pajem do Templo de Tempus, que afobado ignora os dois conversando e se dirige a Pandur que ria de tudo encostado na cadeira.
- Senhor, o senhor precisa vir comigo agora!
- Calma, menino, o que foi? Ele pergunta, voltando a postura imponente de paladino.
O garoto olha em volta, v
ê a aparência de Chronos e faz uma careta de desaprovação e medo. E diz:
- Aqui não, senhor. Ele pode nos ouvir aqui. Vamos ao templo.
- Vamos amigos, parece que teremos alguma distra
ção para essa noite enfim!
Os outros dois assumem cada um, um dos lados do paladino. Andorras diz que vai encontrá-los no templo em alguns minutos, mais preparado. Chronos coloca de volta a máscara, mas o garoto diz:
- Ele n
ão.
- Meus amigos vão comigo onde eu for. Ele diz pondo fim a discussão antes dela começar -  Apenas me leve ao templo e explique. Por favor.

Quando alcançam o Templo de Tempus eles podem ouvir um lamento ecoando com o vento. O som se assemelha a uma mulher chorando. O som vem dos bueiros que levam ao esgoto.
No templo o Clérigo agradece a rápida resposta. Poucos minutos depois Andorras chega, agora com sua armadura negra, e eles estão prontos.
O cl
érigo explica que nas ultimas luas eles tem ouvido esse lamento vindo do esgoto. Ele mesmo tentou averiguar a origem, mas sem sucesso. Apesar de ter o poder para expulsar qualquer mal que possa estar por trás disso, ele agradeceria se o nobre paladino se encarregasse, para que ele mesmo não precisasse se ausentar do Templo novamente.
Andorras e Chronos percebem claramente a animação de Pandur com a ideia. Havia meses eles estavam nessa tarefa de cavar um buraco para soltar um dragão e reconstruir a Torre do Meio do Caminho. Faltava ação. E agora uma grande oportunidade se apresentava.
Eles aceitam a tarefa, tentando fingir não estarem todos muito animados com a possibilidade de encontrar alguma coisa que viesse a ser um desafio. A adrenalina corria em suas veias. Protegendo o flanco um do outro, eles adentram os esgotos da cidade atrás da mulher, já sonhando com as recompensas.
A tarefa dura poucas horas. Eles caminham em meio aos ratos e a sujeira, seguindo um rastro de música. Num buraco no que deve ser próximo a torre principal do Templo de Tempus eles encontram a assombração.
Andorras espera pela ação do Paladino, claramente pronto para o ataque.

E pela primeira vez Chronos tem a sensação real do que aquela marca em seu rosto realmente significava... Ao se deparar com o fantasma... Ele sente sua presença poucos segundos antes dos outros. Ele sente o cheiro de longe e é ele que os leva até o buraco embaixo da torre, quase como um cão de caça. Ao ter a aparição em vista, ela parece emanar uma luz, mas essa impressão dura pouco mais que algumas piscadas. No lamento do fantasma ele sente uma leve pontada no peito, e tem a certeza que o lugar dela não é ali, e que esta perdida. Ele quase sente pena dela. Por um segundo ele acredita que ela olhou diretamente pra ele, e essa dor passou.

N
ão houve tempo para muito mais.
Pandur clama pelo poder e ben
ção de Tempus, pedindo que ele expurgue aquele ser desse mundo onde ele não mais pertence. O símbolo sagrado entalhado no peito da armadura brilha forte, ofuscando tudo em sua volta enquanto queima qualquer rastro daquele ser murmurante.
E Chronos sente aquela alma queimar. Não apenas vê. Ele a sente queimar. Seu rosto queima junto enquanto o clamor àquele Deus é proferido. Ele sente dor, e raiva, e sente o ímpeto de atacar ou fugir. Mas quando a luz chega ao seu auge e o mal que prendia aquele ser ali se desfaz, ele sente paz. E só então, ele vê claramente, que o espírito ali aprisionado se foi. Não na dor. Não na raiva. Mas na luz e na paz quando o mal foi vencido.

Ele olha ara os amigos e percebe rapidamente que nenhum deles percebeu isso. Andorras rapidamente j
á procurava por algum objeto que pudesse ter aprisionado o espírito e por tesouros remanescentes de outras batalhas. Pandur agradecia a Tempus, alheio a todo o resto.
Chronos percebia ali que ele n
ão havia apenas sido sacaneado por um Deus impulsivo. Era muito mais que isso. E ele não sabia se ele queria esse tipo de responsabilidade.
Uma parte dele havia sido tocada, uma parte dele havia sido expulsa e retornado durante a magia divina. Estarrecido com o poder que ele pela primeira vez havia presenciado e sentido com toda essa força, de forma tão pessoal.

Muito mais havia mudado, no entanto. E eles estavam apenas come
çando a entender esse novo caminho que se apresentava à todos...

Ele pisca mais uma vez ao ver aquela representação de Andorrras na sua frente.
Obrigado mais uma vez, Chronos, meu amigo.

Ele não estava esperando por isso...

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A Corte Vermelha

Sem dó, mil caudas vermelhas desciam a colina prontos para acabar com o inimigo que se encontrava em menor número e, aparentemente, em completa desvantagem. E as aparências os levavam a acreditar na vitória mesmo sem seu general supremo. O exército em maior número esperava ter uma vitória fácil mas não foi o que viram . Surgindo atrás deles, uma grande nuvem negra toma toda a colina, engolfando o imenso exército que em um brandir de espada estava todo aniquilado. A grande sombra toma forma de um gigantesco dragão. Ela já sabia que não estava de passsagem e que todos os esforços eram inúteis contra a  Sra. Sombria. Nada podia escapar a seu ultimo ataque. Então como o rugido dos trovões a Grande Sra. Sombria se faz ouvir e todos aprisionados em suas grandes garras que ainda estavam vivos morrem ao ouvir sua voz. “A Matriarca é soberana e detentora dos Corações, e ninguém que rasteje esta longe de seu jugo. Ela sentenciou á morte todos que se voltarem contra a sua vontade e eu estou aqui para puni-los. Aqueles que estiverem com a Matriarca serão poupados e seus corações serão lavados com a verdade! E nada será sobreposto a verdade para todo o sempre!”. Muitos gritaram e gemeram em agonia e mesmo assim encontraram seu fim. Dentre eles o mais perverso dos corações encontrou a verdade e teve sua vida consumida entendendo que estava no lugar certo na hora certa. Viu tudo e sentiu tudo, entendeu que não existia vida fora dos braços da mãe. Entregou sua vontade às garras da  Sra. Sombria e ao abrir os olhos encontrou a verdade.


- Levem ele daqui! Eu quero que vocês arranquem sua pele, e depois o tragam à minha presença; eu tenho um presente para ele. Agora podem sair da minha frente!
Furioso Kin Ram agora levanta seu olhar ao restante dos guardas. Este olhar congela seus corações. Nunca o viram tão enlouquecido; sua cólera escorria pelas presas à mostra no canto de sua boca; o som do ranger dos dentes fazia as paredes de seu castelo tremerem como se a própria rocha acompanhasse o movimento demente de sua mandíbula. Então ele dá um sorriso irônico à sua filha.
-Minha querida filha, eu preciso saber por que você falhou em sua missão? Quero que me diga por que tenho que... ser privado de meu desejo? Dei à você tudo que pediu e um simples gracejo não me foi atendido. Nunca em minha vida eu fui privado de meus prazeres. Agora, aqui esta você com seu pescoço a mostra esperando que eu a poupe como se por ter meu sangue eu devesse ter piedade de seu fracasso. Isso não a torna minha predileta, este sangue deve ser honrado com a vitória não ... nunca... jamais vou perdoar sua falha. Você mais que qualquer um que ainda respir... você nunca deveria falhar!
O rosto de Fem mostrava um desespero que nunca havia sentido antes. Seus olhos ardiam como fogo ao ver a rosto de ódio do pai, mas mesmo assim ela agradeceu por sua vida. Agora Fem Kin Ram tinha que  usar seu bom senso como se sua vida dependesse disso, e na verdade dependia.
-Meu senhor, eu fui ludibriada! Convencida a retornar apenas com meu prisioneiro! Todo meu exercito foi destruído antes mesmo que pudessem levantar suas armas.A própria Sra. Sombria estava lá ao lado deles. Ela finalmente tomou seu lado. Mas antes que eu continue, quero entregar ao senhor um segundo troféu...
De baixo de sua cota de malha ela retira um coração ainda pulsante dentro de uma esfera de energia.
- Aqui esta, meu Sr. Divino Mestre Kin Ram. Uma prova da devoção de sua general mais dedicada! Minha prova maior da estima e subserviência a vossa presença divina! Eu entrego o Coração Vermelho! Algo que valha a vida de sua filha, o terceiro dos corações da Matriarca. Foi difícil, mas eu precisava agradá-lo depois de minha trágica empreitada, meu Divino Sr. – E enquanto ela fala, ele começa a sorrir, e ela sabe que isso não é um bom sinal... -. Agora é seu o destino de todos os Vermelhos! Sua vitória ainda pode ser conseguida se sua general ainda estiver de pé a seu lado divino. Eu suplico por sua misericórdia! A Matriarca ainda será meu presente mais valioso ao Sr., Divino Mestre Kin Ram.
Kin Ram toma o coração em suas próprias garras e o ergue aos céus.
- Finalmente os vermelhos estão fora da sina da Matriarca. Agora não mais há destino em nossas linhas vitais. Kin Ram, o “Deus Vermelho”, libertou vocês do final trágico da patética Matriarca! Todos vocês agora devem suas vidas a mim e cada coração imortal está ligado ao meu coração. Nunca mais nascerá um dragão vermelho que não descenda de minha própria linhagem. Todos nesta sala agora devem suas vidas a mim e a minha vontade! Este dia está para vocês como o primeiro dia de vossas vidas! Vejam meus irmãos, eu tenho o destino de todos em  minhas mãos! Levarei os Dragões Vermelhos a sobrepujar todos os outros dragões! Os filhos deles terão medo de enfrentar os Vermelhos e se curvarão em vossa presença!
- Agora... Olhando pra você, minha filha, o seu destino sempre me pertenceu. Não tolero falhas! Você falhou! – E então ele sorri. E é quando eles sabem que não existe perdão. - E... como um ultimo ato de devoção... vou tirar sua vida.  Servirá de exemplo a todos que aqui se agraciam com minha presença. Quero que seu sangue esteja para sempre entre meus tesouros... E se assim eu o fizer, um dia a trarei de volta à vida, e uma vez mais estará a meu lado...

Fen Kin Ram, a líder do exército vermelho, filha do Deus Vermelho, Executora do Reino de Cobre, a ultima herdeira viva, viajante dos planos, nascida em Faerun encontraria seu fim em Endor. Mesmo assim não partiria em desonra para com seu Deus. Neste momento ela teve certeza de sua escolha e sabia que era a melhor escolha que poderia ter feito diante da corte vermelha. Fen Kin Ram deitou-se no chão do altar de cobre e antes que encontrasse seu fim como mortal novamente, finalmente se sentia livre. Como se os poucos momentos em que esteve fora da fortaleza de cobre e na presença do inimigo fossem os melhores momentos de sua longa vida. Quatro mil anos de escravidão foram encerrados em um poderoso golpe desferido por seu Pai... Não mais seu Deus...

Já faz muito tempo que não se vê tantos Vermelhos reunidos na cidadela de Cobre. Do lado de fora o céu torna-se vermelho escarlate diferente de todos os entardecerem em Ren Camir ou “NOVA CORMIR”. O mundo lá fora agora sabe que tudo esta mudado. Que  os ar agora pertence a um Deus onipotente. Kin Ram o Sr. dos Caudas Vermelhas agora pode governar sem a intromissão de alguém acima dele; nunca mais estar sobre as estrelas da matriarca, livre de um velho juramento realizado na Torre Infinita onde todas as brilhantes mentes  engrenaram uma fábula majestosa.
Uma nova Matriarca nascia recebendo todos os corações em seu peito. Carregando em si o destino de todos os próximos Srs. das oitos cidadelas. Todos dotados do poder da criação gerando novos filhos e servos como uma grande colméia que fabrica suas próprias operárias. Todo este poder e uma única obrigação:Todos em prol da majestosa Matriarca.
Mas agora o céu é vermelho! O coração está livre do juramento. O Deus vermelho abre seu próprio peito e funde seu coração á custa de muita dor. Dor que agora o torna vulnerável mesmo sem saber o preço de sua audácia agora todos os Vermelhos sentem seus peitos dilacerados e por alguns instantes param de bater . Estarão de agora até o dia de suas mortes ligados a mesma sina de um único coração. Se este coração parar de bater toda a raça também encontrará seu fim.
Seu sangue corre por seu peito, um desejo incontrolável toma conta de sua mente; todos os corações agora voltam a bater ao mesmo tempo “tum tum... tum tum...”  mas, por um breve segundo, ele sente o arrependimento que tem um filho que se torna pai e não mais terá a força de quem o possa vigiar e auxiliar seu crescimento, seu amadurecimento... tão rápido quanto seu pensamento este temor se finda e novamente a fúria toma seus pensamentos.
- Retornem às suas tocas fortifiquem seus exércitos, quero todos à minha porta com toda a força que possam organizar. Ren Camir agora é o único lar para toda minha raça; um novo templo será erguido a minha glória e quero tributos à altura de minha importância! Neste castelo devem habitar meus leais seguidores; minha cidade será a casa de vocês e seus tesouros agora devem estar aqui diante de meus pés! Aquele que não retornar com todo o tesouro que possua, será considerado um traidor da raça e pagará com sua vida por esta intolerável ofensa.
Os portões do castelo de Cobre se abrem e corpos colossais alçam vou em direção opostas como cometas marcando o céu escarlate ..
- Eu sou o Deus Vermelho! – Ele caminha até a entrada de seu castelo – Posso sentir cada uma das afortunadas almas que compartilham meu sangue! Sei o que se passa em suas almas! Sei onde estão! O que sentem quando se enfurecem. E recompensarei cada um de vocês em seus esforços e adoração! Agora eu estarei sempre a postos, e não haverá mais mentiras diante de meus olhos, e só eu tenho o direito de derramar o sangue.
O Deus Vermelho emerge do mais alto das construções exigindo da cidade homenagem à sua presença. E imediatamente todos se lançam ao chão em reverência a sua presença!

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Ola eu sou o TAZ o mestre e criador do mundo de Endor e quero agradecer a você leitor por fazer parte desta aventura que nos divertiu por 10 anos.
Endor é um mundo rico e em constante evolução. Criado para ser a prisão de um Deus que insistia em destruir o equilíbrio de Faerun "BANE",num esforço concentrado unindo lados que nunca iriam trabalhar juntos para evitar a aniquilação de todos os seres deste planeta desfazendo de vez a criação de AO o primeiro dos deuses também conhecido como o Pai dos Deuses.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Em um outro tempo, muito distante, muitos anos na frente...

O sol se punha lentamente na cidade de Ahm. Enquanto o paladino se entretinha nas tarefas de sua igreja, agora já

quase reconstruída, a ladra ajudava no que podia e ficava a admirá-lo enquanto o fazia. O cavaleiro da morte

observava de longe seus amigos, zelando por aquele ultimo momento de paz. A calma antes da tormenta. Ele observa a

todos, com mais ou menos interesse, questionando seu papel e o deles nessa bola de neve que eles iniciaram. Por que

ele sabe, com todas as certezas, que foram eles que iniciaram tudo isso.
O ultimo raio de sol brilha, com certeza em direção a Tehyr ele pensa. Seus olhos param sobre a menina elfa.

Encantadora, sem dúvida. Filha da Muda, aquela que lhe salvou a vida e lhe ajudou, como que por nenhum motivo.

Alguém a quem ele seria eternamente grato. A filha dela era uma das moças mais lindas que ele já conhecera. Era mais

que beleza, no fundo era algo especial... Algo que fazia com que todo homem que se aproximasse dela se encantasse

logo no primeiro olhar.
O cabelo loiro, comprido, solto como poucas vezes ela deixava, tremulava ao vento que soprava do norte. A

pele clara, vermelha por causa do trabalho pesado que fazia. O corpo frágil, que mal aparenta a força sobre-humana

que ela possui, parece se atirar sobre o paladino. Os olhos, cor de rosa, atestando sua meia natureza élfica junto

das orelhas pontiagudas, brilham e não olham para nenhuma outra direção. Mesmo quando ela parece só com seus

pensamentos, é na imagem do paladino que eles pousam.
Parece que só ele não vê o corpo magnífico que aquela menina tem. As pernas, os braços, loucos para enlaça-

lo; os seios, ardendo como o coração que carregam, por um toque, mesmo que ingênuo, dele. A cintura, que grita por

um abraço...
O cavaleiro enrubesce. Naquele momento ele a desejou, e quis que fosse por ele que ela clamasse com tanta

paixão. Ele sentiu o coração bater com a saudade daquelas que já se foram: Muda, Valéria... Ficou com raiva do

paladino, por ser tão cego, ou burro... E lembrou, ao olhar novamente para a menina, da natureza mágica que nela

havia. E lembrou da reação dela quando foi dito o que aconteceria com aqueles feitos de magia... E tremeu. Encarou o

pássaro, procurando uma resposta que ele não encontrou, mas já conhecia.
Lembrou do dia anterior. Da confusão por causa do livro de Chauntea. Da morte do irmão, das lágrimas. Do rei

irmão que tentou manter a calma em momento tão desagradável. Do rei menino, que deixara para trás, no inferno,

graças a ele e seu comparsa, toda sua meninice. Da clériga... A clériga que, provavelmente, seria a resposta para os

anseios daquela menina. Ou não... Lembrou do ladrão. Não Ramon, o outro... O líder da guilda, o mensageiro de Mask.

Mask, que está dos dois lados da batalha, ou como ele mesmo diria, não esta de nenhum a não ser o dele mesmo. Ele

disse que a menina havia sido escolhida sim... Mas isso só iria se mostrar mais pra frente... Suas mãos tremem e ele

sente impulso de procurar sua arma. Ele fecha os olhos, com medo de quem ele se tornou...
“Meu coração não está morto, apenas meu corpo está...” Ele pensa com certo pesar. “Foi a minha escolha...”

Ele mesmo se lembra. “Mask... Eu sei que, até mesmo para seus seguidores isso pode soar estranho, mas... Eu senti

sua falta amigo! Agora eu entendo... melhor... o que você me disse alguns anos atrás. Mas eu acho que, mesmo naquela

época, você já sabia que decisão eu iria tomar...”.
Ele desce do topo do prédio onde estava quando a luz se esvai. Logo irão chamá-los para a festa que ele

mesmo requisitou. Esta noite eles terão a festa que irá acalmar o fogo em seus corpos. Ele suprira a saudade que dói

o peito afogando-o em vinho e hidromel. Mas antes... Ele desce as escadas, e encostada na parede do lado de fora do

templo de Tempus esta a menina. Ela descansa mais alguns minutos antes de ser chamada para se trocar para a festa. O

pássaro pouso bem em frente a ela e a encara. Ela recua, assustada. Ele não sabe bem se do animal ou dele. Ela tem

medo...
- Calma menina. EU não vim buscar você hoje... Eu vim como o homem, não como o cavaleiro.
- Desculpa Chronos. É que, depois do meu irmão eu...
- Eu entendo... Queria que você pudesse entender que era necessário...
- Eu entendo. Mas, ainda assim, ele é meu irmão mais novo... – Ela tenta sorrir, um sorriso meio tímido meio

sarcástico.
- Posso sentar com você um instante?
- Ah...Pode... – Ela se esgueira para o lado um pouco. Faz menção de levantar quando ouve barulho dentro do

templo. Como ele não sai, ela se acalma.
- Han... Você não consegue nem evitar não é mesmo?
- Não consigo evitar o que?
- Se eriçar quando ele chega perto.
- Ele?
- Pandur...
- Não é isso, eu...
- Kalli...Eu posso não ser um dos mais atentos por aqui, mas eu ainda não estou cego. E, é bastante óbvio o

jeito que você olha pra ele.
- Bom, é que... – Ela enrubesce, e parece ficar ainda mais bonita.
- Ele sabe?
- Sabe... Eu falei com ele alguns dias atrás... Mas... Não sei, acho que ele não sente o mesmo por mim...
- Eu não vou dizer o contrário. Eu não sei. Mas eu vou dizer o que eu sei... Sei que o que você sente é algo

muito especial, e eu a invejo por isso. Sei que passei o dia observando você, e eu o invejo por ter a oportunidade

de ter alguém tão absolutamente bela ao lado dele. E sei, e preste atenção nisso, que vocês não tem muito tempo se

quiserem ficar juntos.
- Chronos... Quem é você que eu mal reconheço?
- Essa, menina, é a parte de mim que tem muito mais tempo de conhecimento que meu próprio corpo pode agüentar

hoje. – Ao dizer isso é como se os olhos dele brilhassem. Brilhavam como cristal...
- Você mudou... Mas parece triste...
- Ouça o que eu digo, Kalli. Vocês não tem mais que essa semana para ficarem juntos... EU sei... – ele vê o

medo nos olhos dela quando ele enfatiza o eu em sua frase e a tatuagem em seu rosto parece mais nítida. – Vá agora

menina. Fale com a clériga e com o líder da guilda. Peça que eles a deixem o mais bela que você pode ser... Fique

linda pra ele... Pode ser sua ultima chance...
Com essas palavras ele a deixa ir. Enquanto ele permanece próximo a porta do templo, aguardando que o paladino saia,

ela vai de encontro a clériga, no barco.
Antes de procurar qualquer pessoa, ela vai até seus aposentos. Pega as duas ultimas adagas que sobraram do presente

que recebeu de Tempus e as coloca sobre um baú onde ela improvisa um pequeno altar. Acende duas velas, uma ela

dedica ao deus das batalhas, outra a sua mãe. Desnuda de qualquer roupa ou utensílio, ela ajoelha aos chãos e reza:
- Ò Grande Tempus, senhor das batalhas e de todas as guerras, ouça minha prece... Tens me abençoado há muito

tempo e por isso eu te agradeço. Venho procurando auxiliar seu escolhido e não vejo pesar por essa escolha. No

entanto, admito que o tenho feito, há já algum tempo, por interesses pessoais. E é sim, o senhor, que eu lhe dedico

essa prece. Não apenas para agradecer suas graças, mas para lhe fazer uma súplica.
O senhor tem o mais valoroso dos cavaleiros, e ele procura seguir teus ensinamentos a todos os momentos. Pandur é,

sem dúvida, o Lorde do caos, e da guerra, como tem sido chamado. Pois bem, grande Tempus, tu tens o guerreiro. Ele é

teu e sempre será. Então, por que não deixa o homem para mim? Eu sigo teu cavaleiro, ó senhor, e ao faze-lo sigo a

ti. Então, não mereço a atenção do homem que escolheste, por tanta devoção?
Tens o guerreiro. Deixa o homem para mim. Ele é o homem que eu amo, deixa que este seja um assunto apenas entre nós

dois. Não se intrometa em assunto que não é batalha. O amor, ò lorde Tempus, é assunto que não diz respeito ao teu

panteão... O amor, senhor, é assunto meu...

Cons essas palavras ela apaga a vela destinada ao deus das guerras. Uma oração silenciosa, um pedido de benção e um

sentimento de saudade são o que ela destina a sua mãe antes de apagar a outra vela. Ao vestir-se com roupas simples,

ela segue atrás da clériga e do líder da guilda. Agora, prepara-la, esta nas mãos deles.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

O barco e o escorpião







O sol ainda não havia se mostrado quando fomos levados para o pequeno porto da Ilha dos Padres. Tudo muito silencioso, quase escondido, e tudo feito com muita pressa. Nos levaram para o fundo do navio, separando as crianças em duplas, e apenas aqueles que haviam se consagrado sacerdotes tiveram permissão para permanecer na proa. Quando nos colocaram em uma das salas do deck de carga, trancaram a porta. Não podíamos ouvir um único som de fora da sala. Alguma coisa estava errada.

Não sei quanto tempo esperei para tentar sair daquele lugar, mas lembro de termos chegado a adormecer. A porta estava trancada e não adiantava tentar chamar alguém, já que se nós não podíamos ouví-los, eles também não nos ouviriam.

Começamos a ficar com fome e eu e meu amigo, Sam, voltamos nossa atenção para os barris que estavam por ali. Com receio, eu mandei que ele abrisse alguns barris, onde um possuía areia, outro algumas frutas estranhas das quais Sam se aproveitou e o outro... O outro estava cheio de escorpiões, enormes e venenosos. Sam fechou-o mais do que depressa, e descobrimos um pouco tarde, que com muita força.

Com medo, não sei se de ser escravo, como era óbvio naquele momento, ou de ser morto pelos escorpiões, tentamos arrombar a porta. Pesada demais para mim, Sam se encarregou do arrombamento enquanto eu me livrava dos escorpiões mais próximos. Na metade do trabalho, quando as vigas de madeira começavam a ceder, mas ainda era insuficiente para que qualquer um de nós pudesse passar pelo buraco, o navio começou a inundar. Socando a porta com desespero, foi quando conseguimos sair da sala que vimos a enorme pinça furando a porta em frente a nossa e começamos a ouvir o alvoroço no convés acima de nossas cabeças.

Subimos a escada em um pulo, e pudemos ver os marinheiros tentando controlar o barco enquanto entrávamos em uma enorme gruta em uma montanha. Não muito depois que nós subimos, o chão do convés se partiu onde deveria ser a cela em frente a nossa e um enorme monstro, metade escorpião, metade homem, saltou em frente aos marinheiros e começou a atacar tudo que havia em sua frente. Os homens atacaram o animal, na maior parte das vezes em vão, tentando prender sua preciosa carga. Alguns se jogaram na água, o que parecia ser o mais sensato a fazer, já que dentro da gruta não teríamos chance de ver de onde viria o golpe que nos mataria.

Sam arremessou uma bala de canhão na cabeça do monstro enquanto eu alcancei a espada de um dos marinheiros. Sem chances de vencê-lo, gritei para Sam que se jogasse ao mar, e fiz o mesmo. Agarrei meu amigo na água, lembrando que ele não sabia nadar, e subímos nas pedras da gruta. Percebemos que ali havia um caminho que levava cada vez mais para dentro da caverna, e não vendo outra escolha, seguimos.

O barco adentrou pelo buraco rapidamente, e ao passar por nós, pudemos ver o enorme homem-escorpião lutando contra os marinheiros que sobraram. Quando já estava bem a frente, uma enorme bola de fogo veio em nossa direção sendo lançada do navio, e pondo-o em chamas. Pulamos na água para evitar o golpe, e ao subirmos novamente no caminho ouvimos os gritos de desespero do barco, dizendo que o animal ainda estava vivo. No momento que outra esfera de fogo veio em nossa direção, entramos em uma passagem feita na pedra e corremos para que o fogo não nos alcançasse. Uma leve sensação como a de ter acabado de sair da água foi o que precedeu nossa aparição em uma floresta. Sem nada atrás de nós a não ser as pedras de uma montanha, nada diria que nós acabaramos de escapar do inferno.
Mas era cedo para comemorar... Andamos pouco mais de uma hora até chegarmos em uma clareira e pararmos um pouco para descansar e tentar descobrir o que tinha acontecido. Não passaram-se mais de 2 minutos até que começássemos a ser atacados, alvejados por flechas.

Procuramos nos proteger e logo vimos que estávamos cercados. Podiamos fugir, sempre se pode correr o risco de virar as costas e fugir. Mas não era o estilo de Sam fugir. Ele era forte, muito forte, ainda mais para um garoto de 16 anos. Então ele decidiu enfrentar nossos agressores. Agressores, que apesar de pequenos e com uma aparência que lembrava pequenos lagartos humanoides de pouco mais de 1 metro de altura, estavam atacando a distancia com flechas. E estavam em maior numero. E ele, Sam, era apenas 1 homem desarmado e sem treinamento com seu amigo que tinha uma pequena espada enferrujada na mão.

Não tivemos chance. Ele não teve chance.

Antes mesmo de conseguir alcançar o primeiro deles ele foi alvejado por pelo menos 6 flechas, certeiras, que o fizeram tombar. Não tive muito tempo para pensar ou olhar. Ele estava morto, simplesmente morto em segundos na minha frente sem que eu pudesse fazer nada para ajudar. Então eu fiz a única coisa que podia naquele momento: fugi. Corri dali como se minha vida dependesse disso. E de fato, dependia! Corri sem olhar pra trás por muito tempo, tentando não pensar, sentindo apenas uma dor enorme no peito que mexia com a confusão da velocidade dos fatos. E reforçava uma briga que seria, pra mim, eterna:

- Ele não pode estar certo... Mas ele estava certo, eu não pude fazer nada... Ele não vai mais estar certo! Não para sempre! Mask não estará certo!

sábado, 13 de fevereiro de 2010

A Ilha dos Padres



Poucas embarcações passavam por aquela ilha dominada por padres e sacerdotes. A cada mês, um navio trazia suprimentos que não eram produzidos na ilha, e raramente um barco vinha recolher os jovens que ansiavam voltar para suas casas depois de anos de trabalho forçado. Sem mais, as pessoas que lá viviam estavam ainda mais isoladas que em qualquer outra parte de Faerun. A ilha era regida pelos sacerdotes de Silvanus, deus da natureza selvagem, auxiliados por sacerdotes de Sune, deusa da beleza, e Talos, deus das tempestades e das forças destrutivas da natureza. Sem muita dúvida, apesar de manterem o decoro e as tradições de suas religiões, a maior parte dos sacerdotes seguiam ninguém mais que eles mesmos.

A ilha funcionava como um mosteiro, para onde eram levadas crianças de vilas costeiras que não mais tinham condições de sustentar seu próprio crescimento. As crianças eram tiradas de suas casas ainda muito novas, com três ou quatro anos, e passavam muitos anos trabalhando na ilha. O excedente produzido por esses jovens era mandado de volta para suas antigas famílias, que contavam com essa ajuda.

Obrigadas a trabalhar na lavoura e na criação de animais, as crianças eram tratadas com indiferença. Tratados como verdadeiros escravos, os sacerdotes “emprestavam” algumas das crianças aos outros, raros, moradores da ilha, e esse as ensinavam a ler e escrever e passavam os dogmas de suas religiões, em troca do trabalho que as crianças lhes prestariam

Ainda mais raro era que esses sacerdotes aceitassem que os jovens perambulassem pela ilha, conhecendo os outros poucos moradores, que os treinavam em técnicas de batalha clamando que um dia elas teriam de proteger suas próprias casas, e lutar por suas próprias vidas. Mas por mais que tentassem esconder, era óbvio que seu verdadeiro interesse estava em utilizar as crianças para o trabalho pesado, e a má vontade com que praticavam todas as outras tarefas, e pouca freqüência com que eram feitas, mostravam que não possuíam compaixão para com aquelas pobres almas inocentes.

Foi para essa atmosfera que eu, Chronos, cheguei ainda aos quatro anos de idade. Eu nasci durante o verão do Ano do Dragão, e se já naquela época eu acreditasse em destino, teria pedido para nascer de novo. Era um garoto mirrado, curioso, que não entendia o que havia acontecido para ter ido parar nessa ilha. Não me senti mal, pelo contrário, estava feliz por ter ido parar em um local junto de tantas crianças. Me enturmei rápido com um grupo de meninos de minha antiga vila, mas logo perceberíamos que aquele lugar não era uma colônia de férias, e sim uma nova casa.

Os primeiros anos não foram tão difíceis. As lembranças da família mantinham a esperança acesa, e isso me confortava. Mas os tempos foram passando, e a cada inverno mais crianças iam morrendo pelo frio, e pela incapacidade dos sacerdotes de curá-las. Talvez tenha sido isso que tenha deixado os sacerdotes mais ranzinzas, talvez não, mas a cada ano, mais difícil as coisas iam se tornando, e menos esperanças de voltar para casa restavam.

Eu me livrara de metade de meus afazeres no mosteiro trabalhando para um mestre de armas que havia sido exilado naquela ilha. O Cavaleiro Sharminus “traidor da coroa de Cormyr”, como era chamado pelos sacerdotes, nunca foi um homem muito simpático, e eu nuca duvidei que existira um bom motivo para exilarem-no. Mas, por mais que não quisesse ser meu amigo, ele me fazia um favor. Quando estava de bom humor capiturava alguns livros em sua pequena biblioteca e me ensinava a ler e escrever. Isso quando não decidia que, se um dia eu fosse sair dali, eu deveria saber me defender do mundo monstruoso e injusto que existia lá fora, e me ensinava golpes com espadas improvisadas de madeira, ou metal barato. Se eu o satisfizesse nessas lições, ele costumava falar um pouco sobre sua vida, envolto a goles de vinho, e me deixava brincar. Infelizmente foram raros os momentos em que isso ocorreu, já que, como disse anteriormente, ele era um mestre de armas.

Foi durante o Ano do Wyvern, em 1363, quando tinha 11 anos, que uma embarcação naufragou próxima a ilha e um jovem sobreviveu, sendo acolhido pelos sacerdotes. O jovem, com seus 18 anos era apenas um marinheiro que pulara do barco antes desse afundar. Mas para as crianças ele era como um herói, uma centelha de esperança mandada pelos deuses. E para mim, ele seria um amigo.

Apesar de ter sido instruído a evitar contato com as crianças até que o próximo navio de suprimentos viesse, o marinheiro costumava caminhar pelos alojamentos durante a noite. Em uma dessas noites, resolvi abordá-lo e iniciei assim uma curta e não tão feliz amizade.

Mask, como ele me dissera se chamar, apesar de não ter sido esse o nome que ele deu aos sacerdotes, era um aventureiro que conseguira emprego naquele navio. Contou histórias incríveis de aventuras alucinantes, com poderosos cavaleiros, e monstros que eu nunca poderia imaginar. Contou sobre batalhas apoteóticas entre deuses que desciam à terra, e camponeses que viravam heróis. Mas apesar das histórias serem sempre cheias de heróis e finais felizes, Mask sempre frisava que tudo que acontecia era pela vontade dos deuses, e que nós não passávamos de brinquedos em suas mãos. Não era uma pessoa muito esperançosa, e apesar do tom alegre com que falava, sempre detinha um pé atrás, e procurava usar aquilo que lhe foi dito ao seu favor.

Mask não era uma boa pessoa, mas o fascínio que exercia em mim me faria mudar para sempre. Quando conversávamos sobre minha antiga família, Mask sempre me desencorajava, e dizia que nunca iria encontrá-la. Dizia que ninguém se importava comigo, nem minha família que me deixara ir, nem os sacerdotes e os deuses, que estavam engajados em um jogo em que minha vida nada valia. Dizia que, mesmo que não acreditasse nele, quando meus amigos morressem na minha frente sem que eu nada pudesse fazer, eu acreditaria.

Certa noite Mask foi ao alojamento dos meninos me chamar. Levou-me até o pequeno porto da ilha, e sentamo-nos de frente para o mar:

- Sabe garoto, você é esperto. Se um dia você sair daqui, você vai se dar bem.

- Mas eu vou sair, Mask. Eu só não sei quando....

- Pois ouça o que eu vou lhe dizer, Chronos. O mundo lá fora não é brincadeira. Ou você mata, ou você morre. Não se pode confiar em ninguém, as vezes nem na gente mesmo. Não acredite que alguém possa te ajudar a não ser você mesmo. Os outros estão por ai para serem usados criança, pois é isso que fazem com você. Por mais que você lute, sempre vai ter outro para colher os seus méritos.

- Não! As coisas não são assim não! Eu não acredito em você! Eu trabalho duro para ajudar a sustentar meus pais, e eu sei que eles estão me esperando. E mesmo as histórias que você me contou! Todos elas falam de como as pessoas lutaram por aquilo que elas acreditavam.

- São só histórias criança. Os deuses só ajudam quem eles acharem que vai ser útil no seu joguinho. Você acha mesmo que vai voltar para casa? Pois bem, garoto, lembre-se disso: quando te colocarem dentro do navio para você voltar para casa, e ninguém falar com você ou responder suas perguntas, e trancarem-no em um lugar, sozinho, tenha certeza, você não vai para casa.

Nunca mais ouvi falar de Mask, apesar de suas palavras duras soarem em minha mente todas as noites depois disso.

Meu comportamento mudou muito depois daquela noite. Trabalhava menos, enrolava, pagava em comida outro jovem para que esse fizesse o meu trabalho sempre que possível. As mudanças foram lentas mas graduais, e com o tempo acabei por influenciar outros jovens a fazerem o mesmo, o que me rendeu alguns apelidos e muitos castigos, que só faziam com que lembra-se cada vez mais das palavras de Mask. Com raiva, apenas meu amigo Sam, a quem costumava trocar comida para que ele fizesse seu trabalho, e Zé, meu amigo que seguira a linha de devoção por Sune, e ainda sim era uma boa pessoa, faziam com eu mantivesse a esperança, não mais de voltar para casa, mas de que Mask estivesse errado.

No inverno do ano do escudo, em 1367, foi anunciado que iríamos para casa, assim como outros jovens. Foi o inverno mais longo de minha vida até então, mas talvez o mais feliz que pudesse me lembrar. Não reclamei uma só vez durante todo o tempo, trabalhei, e até ajudei os outros mais novos em suas tarefas, coisa que fazia anos que deixara de fazer. Tudo pela promessa de ir para casa. Sonhava todas as noites, tentando lembrar o rosto de minha mãe, e como era nossa casa. Queria ir logo embora dali. Queria provar que Mask estava errado...